domingo, 12 de setembro de 2010

Gigante azul



é um baque enorme no coração. Um nó no estômago. Um aperto forte seguido de uma explosão de adrenalina. Um misto de Medo/Ansiedade/Euforia. As pernas correm. Correm para a frente mas com uma certa reserva. O coração bate mil à hora alimentado pelo medo/adrenalina que me estala nas veias. Entro na água calculando a corrente e a distância a que me encontro da mulher. Apenas vejo uma mancha escura no meio da espuma branca das ondas. Mergulho por baixo da espuma da primeira onda. Uma duas tres vezes, sempre tentando não perder a mulher de vista. Avisto um braço no ar. Os olhos ardem do salitro. As ondas repetem-se. Batem forte. Não dão tréguas. O som é ensurcedor. Têm vida própria. Entro na corrente forte. Nado rapido. Alcanço a mulher, mas não me aproximo. Vejo o medo nos seus olhos. Vermelhos de pânico. Grita por favor que a tire rapido dali. Entrego-lhe a boia e tento acalmar-nos com um sorriso e que está tudo bem, mas uma onda que nos engole por alguns segundos, desmente-me. Venho ao de cima e engulo o maximo de ar possível. Nado em direcção à costa. As ondas engolem-nos. A corrente é fortissíma e puxa-nos para trás. Bato os braços e as pernas com todas as forças. Grito à mulher para me ajudar e bater as pernas ao passar a onda. Sinto o esticam da boia de salvação estrangular-me o peito assim que a onda passa. Dou duas braçadas. Outra onda. Outro esticão. A onda cobre-me. A corrente puxa-me. A cinta estrangula. Respiro. Bato as pernas. Os braços. Os musculos doem. Abro a boca, tento respirar no meio da espuma. Vem de todos os lados. É um turbilhão. Levanto a cabeça. Vejo uma multidão na praia. Bato os braços as pernas. Sinto-me impotente. Engulo água. Abro a boca. Tento respirar. A onda submerge-me. Tento respirar. Parece que estou ali há uma eternidade. Já não sei com quem luto. Com o mar? Com a corrente? Com o medo? Oiço vozes. Vejo rostos. O meu pai. A minha mãe. Penso na morte. É estúpido demais. O medo. Bato os pés. Bato as mãos. Contra o medo. Contra o mar. O peito arde. Os olhos ardem. Os muscúlos doem. Não, tens que nadar. Tens que nadar. Sinto o esticam da cinta. A mulher ainda está agarrada à boia. O mar ruge como um demónio. As ondas vem de todo o lado. A espuma arde-me os olhos. é uma massa de água esmagadora. Um turbilhão violento. Sinto que não consigo sair dali. O ar é escasso. Já não penso em nada. Nado. Bato os pés. Bato as mãos. Bato os pés. Bato as mãos. Já não oiço o mar. Já não sinto os músculos. A dor desapareceu. O turbilhão ensurcedor desvanece-se em silêncio. E uma voz na cabeça. Não. Não é na cabeça. É o Duarte. Passa-me a cinta ligada ao carretel (uma corda de salvamento presa em terra a uma estrutura metálica). Sinto um puxão. Fecho os olhos. Agarro-me com toda a força. Sinto a cinta que me prende à mulher a estrangular-me o peito. Somos arrastados em direcção à costa. Deixo de nadar. deixo-me ir.Arde. As ondas empurram-nos. Oiço vozes. Vejo as pessoas na praia a aumentarem. Aproximamo-nos da costa. Os pés começam a tocar na areia. Temos pé. Algumas pessoas amparam a mulher e levam-na para terra. Largo a cinta e saio da água. Os bombeiros levam a mulher para o posto medico. Aparentemente está bem. Sento-me na areia para recuperar o folego. As pernas bambas e sorrio para o mar ainda com o coração a bombar adrenalina «ainda não foi desta». Estranha esta minha relação com o gigante azul. De amor, paz e tranquilidade, intensidade desassossego e extâse. O mar é sem dúvida feminino.