domingo, 27 de fevereiro de 2011

Ela percebeu tudo



Ela percebeu tudo,mas nada podia fazer. É a beleza das coisas perfeitas. E a música? footsteps on the dance floor. Atravessa o corpo e pinta-me por dentro. E quero rir só porque sim. E rir só porque não. E ela que percebeu tudo. E saio só para ficar relaxado, ou para ir a lado nenhum. E há aviões que sobrevoam viadutos. Ecos nas esquinas vazias. Rumores das vozes saidas das casas com portas pequenas. E a música? And the music don´t feel like it did. And the music don´t feel like it did. E rir. E um reflexo só meu. Só meu. E engloba tudo desde sessões de sexo torrido a domingos de cinema em casa com deprimentes meias de lã. Acordar e adorar segundas feiras. Crescer no inverno e descansar no verão, porque crescer cansa. E a música? I'll be true. tear drops in my eyes, next time i'll be true. Há velhos sentados nos bancos do jardim. Adolescentes que se beijam na boca depois do liceu. Tenho rótulos nas prateleiras da dispensas e na cabeça. Produtos prontos a consumir. Que as nossas cabeças comtinuem redondas apenas para os nossos pensamentos poderem mudar de direcção. Direcção. E a música? Perfeita. É a beleza das coisas perfeitas. And the music? Dont´t feel like it did. And the music? Don't feel like it did

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O estado a que o Estado chegou

Alguma coisa vai mal quando:

um (muitos!)funcionário/director público aufere cerca de 4.500 euros de ordenado e 11.500 euros de subsídios! e o espaço infantil de uma biblioteca municipal fecha de tarde, porque não há dinheiro para contratar um funcionário.

um (imensos!)funcionários/administradores públicos ganham prémios de gestão em empresas com prejuizos constantes! e núcleos museológicos com um imenso e valioso património histórico, como instituições culturais importantes, mantêm-se fechados por falta de verbas.

um assistente/secretário de um ministério público ganha mais do que o ministro/a e há alunos a levar cobertores para a escola porque têm frio nas aulas.

um Estado manda cortar nos salários públicos, nas pensões, nos abonos de familia, etc. e três ministérios aumentam a despesa salarial.

um Estado impõe medidas draconianas para reduzir a despesa e a despesa... aumenta!


O Estado vai mal neste estado...


Sempre evitei escrever aqui sobre politica, mas neste estado a que chegou o Estado... quase que imploro que venha o FMI, porque só tem medo do FMI, quem anda a enriquecer à nossa conta.

Os nossos governantes apelam à contenção mas eles próprios não se contêm em gastar o que não é deles e em muitos casos, em benefício próprio. Assim estão a levar o país à banca rota. Depois vão-se embora e quem fica com a conta e com juros elevados para pagar, somos nós e os que hão-de vir...

Enquanto não houver uma Lei que criminalize quem prejudicou gravemente o estado por gestão danosa e a Lei não for respeitada, este país não sai do lodaçal.

E lamento profundamento que os votos em branco não sejam representados na assembleia da república por cadeiras vazias. Mas não deixarei de o fazer, de votar em branco enquanto só houver partidos e politicos que se servem a eles próprios, em vez de servirem o país e o povo.

Mas o estado a que chegou o Estado e os políticos que temos, também é responsabilidade nossa, ou a abstenção não tivesse a maioria absoluta que tem.

Anjos de Port Au Prince

O terramoto que abalou a igreja de deus (Christchurch), na Nova Zelândia, trouxe-me à memória estes anjos (fantasmas) de uma terra (fantasma) esquecida.


Num promontório de Port-au-Prince, as crianças deficientes do orfanato Village Espoir olhavam serenamente a cidade em ruínas.
Cordilheiras de entulho e cadáveres a arder, avessos obscenos, plasmas orgânicos e minerais, o humano e o que lhe pertence, naturalmente fundidos.
Os mortos ainda tinham os braços levantados, os olhos abertos. Imobilizados no preciso momento em que o ímpeto vital lhes foi mais intenso. O momento decisivo.
A cidade estava aos pedaços e as pessoas vagueavam em terror sobre os escombros, mas não em qualquer zona. Algumas permaneciam inexplicavelmente vazias. Tornaram-se de súbito inóspitas, mesmo para quem sempre lá viveu.
É curioso como ao se envolverem de morte, as pedras se tornaram vivas como monstros. Era preciso coragem para as olhar de frente, e muitos não a tinham. As ilusões de óptica são traiçoeiras. O que parece um ferro torcido pode ser o braço de um irmão. O pedaço de um pneu rasgado pode ser a cabeça de um filho. Nunca se sabe o que se vai encontrar por baixo de uma placa de betão, no interior de um carro esmagado. Ou quem.
A certas zonas não se ia. Era melhor deixá-las no seu zumbido, o seu monólogo, os seus sinistros enredos telúricos. Um ser humano não tinha nada a fazer ali.
Subi ao ponto mais alto da cidade, de onde se via tudo. No orfanato Village Espoir um grupo de crianças fora colocado à parte. Eram uns 20 meninos e meninas em cadeiras de rodas, dispostos num terreno ao ar livre. Estavam ao sol, abrasador, e as moscas atacavam os que tinham mais dificuldades em se mover. Uns eram paraplégicos, outros vítimas de poliomielite, tinham os membros paralisados ou deformidades no corpo. Uns eram esqueléticos, outros faziam movimentos espasmódicos, mas nenhum me pareceu estar triste.
Olhavam a cidade destruída como se fosse um mundo que não era o seu. Como se o espectáculo da tragédia absoluta fosse para eles até motivo de algum divertimento. Talvez o alheamento ou a falta de discernimento se devessem às suas doenças, mas a verdade é que os meninos deficientes da Village Espoir sorriam. Os seus olhos negros e remelentos pareciam dizer: Já cá estávamos. Isto para nós não é nada.
A sua incapacidade e dependência não os levava a estarem aflitos. Tal como na noite cerrada um cego é o único que vê, eles pareciam encontrar na catástrofe o seu elemento. Ao contrário do que aconteceu com as outras pessoas, na sua vida nada mudou, excepto a própria diferença.
Um artista que conheci em Port-au-Prince disse-me que, depois do terramoto, as pessoas passaram a olhar-se de forma diferente. Pela sua desmesura, o sismo foi sentido como um destino para todos, e a sobrevivência como um milagre.
Ter sido poupado equivalia a uma insuportável cumplicidade com o monstro, e talvez por isso tantos testemunhos falem da felicidade, não de ter escapado, mas de ter renascido. É essa a forma como as pessoas se olham – como se nunca se tivessem olhado.
A sociedade haitiana é violenta, e não ficou melhor depois do terramoto, mas agora os homens fitam-se com um certo assombro. Um respeito que as circunstâncias impõem.
Cada ser humano é um prodígio. E é à luz desta lógica nova que não faz diferença nenhuma ser-se normal ou uma criança numa cadeira de rodas.
Agora, como nunca, naquele monte de onde se avista a cidade em escombros, os meninos deficientes do Haiti são anjos como todos os outros.

In PÚBLICO, por Paulo Moura.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sensivel ao toque, mas iphode-se tocar à vontade

Ao que consta, anda por ai muito boa gente frustada/arreliada/irritada com a sensibilidade ao toque dos seus brinquedos, vulgo telemóveis-de-última-geração/iphad/iphone/iphode, etc.

Meia duzia de toques e já era/bloqueia/avaria/crasha

Que insensibilidade...

Nada como o material biológico. Phode-se tocar à vontade que nunca se avaria, não precisa de bateria e nunca se gasta. E com algum empenho a satisfação é garantida e não depende de terceiros (embora a conexão a dois seja muito mais satisfatória).

Vá-lá, srs. da Aplle (lê-se áple e não eiple), Microsoft e afins, beat this!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Desculpa Deolinda, mas estás enganada

Geração parva? Geração rasca? Geração à rasca? Nunca uma geração teve tantas condições. Nunca uma geração teve tantas oportunidades de escolher/frequentar um curso universitário. Nunca uma geração teve tanto apoio económico ou social. Nunca uma geração teve tantos meios como a internet, bibliotecas, cursos, workshoops, informação, telemóveis, meios de transporte, casa dos papás, mesada para noitadas. Geração preguiçosa, isso sim! Nem para votar se levantam do sofa. Se não gostam de quem nos governa. Se não gostam da oposição, pelo menos votem em branco. Dizer que não resolve, é fácil. Reclamar no café com a barriga cheia, é fácil.

Fácil não é com certeza a vida da S. que tirou um curso superior que não lhe arranjou trabalho. E ela reclamou? Sim, mas fez-se à vida e está perto de acabar um segundo curso com mais perspectivas de emprego. E não teve papás para lhe pagarem os estudos. Teve que trabalhar a muito custo num centro de explicações.

Fácil não é a vida do F. que apesar de viver em casa dos pais, dá aulas e levanta-se ás 4 da manhã para frequentar o conservatório de Sevilha, para ter um futuro melhor. O curso de economia deu-lhe emprego? Não, mas deu-lhe a música, porque não foi parvo. Parva não é a Deolinda também, nem esta geração. Parvos são os papás que alimentam uma geração preguiçosa.

Nada no mundo é a preto e branco. Há uma infinidade de tons de cinzento. Num mundo ideal os empregados que não gostam ou não precisam de trabalhar, dariam o lugar aos desempregados que querem trabalhar.

Num mundo ideal, o Taguspark não pagaria, com dinheiro público, 350 mil euros ao Figo por 4 horas de publicidade.

Num mundo perfeito, os donos de pequeno comércio e mercearias não pagariam uma taxa de IRC superior à que pagam os bancos.

Num mundo ideal, o bastonário da ordem dos advogados não viria a público denunciar juizes e procuradores do ministério público de pré-combinarem sentenças, transformando os julgamentos em mediocres peças de teatro.

Num mundo perfeito toda a gente teria emprego. Mas o mundo não é perfeito. E só nos resta fazer parte do problema, ou da solução. A escolha é nossa.

Geração parva? Sim, se forem na cantiga e não mexerem o rabinho.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

É a super-mulher?É um furacão?Não, é a mulher em movimento!

Houve uma altura na minha juventude em que fiquei sériamente preocupado com o futuro da mulher e do homem. Na altura acordava e a primeira coisa que os meus olhos focavam era, não os seios, mas o decote da Linda Carter, e depois os calções super justos do seu fato de Super-Mulher. Era-me inconcebivel, imaginar um mundo onde homens e mulheres vestissem igual e fizessem as mesmas coisas, como apregoavam as feministas na altura, com cartazes e slogans de igualdade para ambos os sexos. Mas que piada tinha agora uma mulher andar vestida de fato e gravata (algo que agora considero bastante sexy) e um homem de saia a fazer de babysitter?!

Entretanto cresci e fiz-me homem. E homem que é homem cospe no chão, bate na mulher e diz palavrões.Não, não. Não desses. Embora de vez em quando não consigo evitar chamar nomes ao árbitro e largar um palavrão quando vejo a conta do dentista. Fiz-me homem com cada vez mais apreço e admiração pela mulher moderna e detentora de todos os mesmos direitos e deveres que nós homens sempre tivemos. Agora elas já não se calam, não se subtraem e tem voto na matéria. E respirei de alívio ao constatar que as saias para homens não sairam da Escócia e as mulheres continuam a exibir aquilo que as torna tão femininas. Quisesse Deus (ou o que quer que seja que nos tenha criado) que fôssemos todos iguais, além das raças e cores não nos teria diferenciado entre homens e mulheres. Pertencíamos todos ao mesmo género e o assunto estava arrumado.

Felizmente Deus teve bom senso e vivam as diferenças (mas que monotonia isto seria se assim não fosse). E esta nova mulher, emancipada e independente pos-se a mexer. Além do emprego e das reuniões de trabalho, dos filhos, da casa, ela tem sempre imensas coisas para fazer e quando não tem, inventa. Ela vai à ginástica, vai ao cabeleireiro, tira cursos de teatro de pintura, viaja sozinha, vai a exposições, cinema, clubes de leitura. É uma mulher em movimento. É uma mulher interessante. E se o homem é por natureza predador, e a mulher uma presa, então uma presa em movimento, que de muito mais luta, é uma presa muito mais interessante. E isto tem muito que se lhe diga, pois quando damos conta, a presa já saltou do sofá e anda sabe-se lá por onde, obrigando o caçador a voltar a caça-la e isto tem mais piada do que ter uma presa sossegadinha em casa, deitada no sofa a bocejar. E já dizia Bukowski: não podemos estar sempre nem a comer, nem a dormir nem a foder, por mais que queiramos, e por isso é que inventaram a filosofia.

Estas mulheres em movimento assustam muitos homens. A ideia da mulher ter a sua propria vida é algo que muitos homens não aceitam e outros perferem ter menos trabalho, optam por uma sossegadinha que dê menos trabalho. Mas isso é lá com eles, a mim não me assustam nada, pelo contrário, fascinam-me. Se uma mulher em movimento ainda consegue arranjar tempo para mim, é porque se importa verdadeiramente. E quando não tem, que seja quando o Benfica joga.

Mulheres sossegadinhas, pela vossa saúde, mexam-se!!!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Nina: Vim pedir-lhe o papel.
Leroy: A verdade é que, quando eu olho para ti, só vejo o Cisne Branco. Sim, és muito bonita, tímida, frágil - o casting perfeito. Mas então e o Cisne Negro? É um trabalho fodido fazer os dois.
Nina: Eu também consigo fazer o Cisne Negro.
Leroy: Ah, sim? Em quatro anos, sempre que danças, vejo-te obcecada em fazer cada movimento na perfeição, mas nunca te vi deixares-te ir. Nunca! Toda essa disciplina para quê?
Nina: Só quero ser perfeita (murmura)
Leroy: O quê?
Nina Eu quero ser perfeita.
Leroy: A perfeição não tem só a ver com controlo. Também tem a ver com soltar-se. Surpreender o público. Transcendência! Muito poucos a têm.
Nina: Eu acho que a tenho.

Argumento: M. Heyman, A. Heinz, J. McLaughlin

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Cisne Negro

Eu sabia que este blog ia dar nisto...