quinta-feira, 29 de abril de 2010

Nova estrevista com o Cusco!!!A não perder!


Bem, esta entrevista é difícil, tal a possibilidade de voltar a poder fazer perguntas (veja as outras entrevistas aqui e aqui)a uma tal sumidade... Cusco, o que podemos fazer para ter um mundo melhor?
-Paz e amor.
Mas como, se há cada vez mais casais infelizes e divorcios?
-Pois, isso é um grave problema. Quando as pessoas deixam de gostar uma da outra, ou quando um deixou de gostar, não há nada a fazer.
Mas como é que um casal, depois de juras de amor eterno, chega a esse ponto?
-A maior parte das vezes, eles são incompetentes como maridos e elas às vezes são muito melgas.
Incompetentes??
-Ora, o homem chega a casa e instala-se no sofá a ver a sport Tv e depois não faz nada e pior, não fala nada ou quanto muito fala enquanto lê a Bola. Falham no companheirismo, na ternura, na amizade. E elas gravam tudo.Têm mais memoria que um disco rigido. E à mínima discusão, atiram-lhe tudo à cara. Mesmo coisas que ele fez há 20 anos atrás, como quando se esqueceu de desligar o fogão, a pedido dela que se estava a arranjar para ele, mas ele não tirou os olhos do Benfica-Sporting e lá se foi o soflê que ela preparou com tanto esmero.
As pessoas mudam?
-As coisas podem mudar. Cultivar é fazer coisas importantes no dia-a-dia. As relações tem fazes de grande seca.
E mesmo assim as pessoas insistem em casar..
-è inato. Faz parte do projecto de vida de muitas pessoas. A felicidade pessoal passa muito por aquilo que se chama o amor ou a relação amorosa.
Existe uma certa tendência para se partilhar tudo. Isso é prejudicial?
-Costumo dizer que só se conhece verdadeiramente uma pessoa em duas situações: o divorcio e quando partilha a casa de banho. O cúmulo da intimidade é partilhar os puns. É verdade!
Não é partilha a mais?
-Os puns à noite são involuntários. Mas devemos partilhar o que quisermos. Há casais para quem a conjugalidade é partilhar tudo, da casa de banho ao dinheiro. A intimidade não é forçosamente as pessoas saberem tudo uma da outra. Não é como acontece com os casais ciumentos, em que andam a vasculhar os emails e os sms do outro.
Há alguma coisa que os casais devam evitar a todo o custo?
-A crítica. O hipercriticismo mútuo ou só de um lado: "tu és isto, tu és aquilo, tu és sempre a mesma coisa, tu fizeste isto,fizeste aquilo.." Há pessoas que tentam que o outro seja igual a elas próprias, que não aceitam a individualidade do outro. Ninguém muda ninguém.
Acha que os homens são mais responsáveis pela falha na relação?
-É mais falta de jeito. Há que dizer-lhes:"Oiça lá, você assim não vai lá. Ainda gosta dessa mulher?Então vá lá e mostre-lhe que gosta dela."
Os homens continuam a ter mais dificuldade em mostrar os sentimentos?
-É uma questão cultural. Tem medo de se expor de serem considerados fracos. Mas a responsabilidade não é só deles. Elas por vezes também são muito chatas, dá vontade de dizer:"Oça lá, não ande a perseguir o homem, não o melgue tanto que ele não aguenta."
Porque é que as mulheres são mais melgas?
-Não sei. Sempre foi assim. Têm mais necessidade de expressão, de um sorriso, de um telefonema, de um convite inesperado. Eles são mais "tumbas" para estas coisas.
Ainda há muito isso de dar a coisa por garantida?
-Sim. Dos dois lados. Mas talvez um pouco mais do lado deles. Eles também engordam, mas não são penalizados porque são homens. Mas as mulheres também reparam nisso e já há quem lhes diga:"Ouve lá, eu, com esse teu corpo de hipopótamo, não tenho atracção por ti..." e isto arrasa um homem.
Mas não são eles que dão mais importancia ao corpo?
-São. A atracção sexual nos homens passa muito pelo corpo. A atracção feminina é uma coisa mais complexa. Como a pesspoa é, como se exprime, como pensa, nos interesses comuns. Já a atracção masculina é muito mais fisica, o que depois pode ser muito complicado. O corpo ao longo do tempo vai mudando. Por isso é que eles ás vezes as trocam por uma mais nova. Vê-se muito pouco o contrário, embora já aconteça.
E será só por causa dos corpos?
-Provavelmente também porque as mulheres não tem muita paciência para um homem imaturo e acriançado. Também me pergunto o mesmo, o que é que eu fazia com uma miuda mais nova, para além de ir para a cama, depois como é que é? O que é que fazia?
Na maior parte das vezes, os homens quando se divorciam, acasalam outra vez.
-Alguns é logo no próprio dia.
Porque?
-Por muitas razões. Não sabem estar sozinhos, são tontos, foram mal educados, tem dificuldades em ficar sozinhos, com o dia-adia da rotina de uma casa.
As mulheres resistem mais tempo sozinhas?
-São mais autónomas, e por outro lado tem os filhos.
Não porque o desejem?
-Não, é porque aguentam. Depois também arranjam novas relações, mas como tem os filhos tem menos disponibilidade e hesitam mais em introduzir uma figura nova na familia. Os homens são mais impulsivos e depois tem facilidade na caça, em caçar.
Pensei que as mulher também caçavam...
-As mulheres deixam-se caçar. Um homem só caça quando a mulher quer. As mulheres tem mais dificuldade em caçar por caçar, ainda que pós divórcio aconteçam fazes dessas. Os homens tem mais facilidade me caçar,e é muito frequente depois de uma separação haver nos homens uma espécie de regresso à adolescência.
E depois recomeçam tudo outra vez?
-Há segundos casamentos com grande sucesso porque os primeiros foram grandes erros de casting, outros que duram apenas um ano ou dois. Não há nenhum casamento verdadeiramente feliz que viva só de mesa e cama.
Mas afinal para os homens não está tudo bem se houver sexo?
-Hoje em dia cada vez menos. Haverá alguns que aceitam isso, mas nunca será uma relação completa e satisfatória.
O que não se deve fazer para manter um casamento saudável?
-Não se deve criticar o outro levianamente, nem a sua familia:"a tua mãe isto, a tua mãe aquilo..." é tempo perdido. A amizade que existe num casamento é diferente, mas a pessoa deve sentir que o outro a apoia mesmo que eventualmente não esteja de acordo com ela.
E onde fica a franqueza?
-Até se pode dizer, mas não na altura, a quente. Costumo dizer que quando querem dizer as coisas desagradáveis, digam quando estiverem bem um com o outro.
Hoje as pessoas não se ouvem muito, pois não?
-Têm pouca paciência. Às vezes é uma seca, é melhor estar na internet ou a ver o telejornal.
E para combater isso, qual o melhor conselho aos casais para serem felizes?
-Riam. Riam-se muito. É fundamental.
Mas Cusco...é de dia e os ouriços-cacheiros vivem à noite e dormem de dia... o que é que está aqui a fazer a estas horas? Não devia estar com... Cusco! Cusco!!! Olha...desapareceu...

domingo, 25 de abril de 2010

Ando cansado de ti e do teu humor de merda com tantas tardes de chuva. Nem sequer tinha pensado em te escrever. Ia escrever sobre a revolução, o vermelho dos cravos, ou sobre o graffite na rua das arcadas. Mas depois pôs se sol e comprei um corneto de morango e, juro-te, há sempre miúdos a jogar à bola na rua das laranjeiras. Hoje, finalmente a bola fugiu para os meus pés e dei dois toques antes de passar ao miudo gordo e sardento, com a t-shirt do FCP. O dia corria-me bem, até porque estava maré-baixa e cheirava a maresia. E na esquina da praça já não se vendiam castanhas, mas flores a tentarem sobrepor-se ao vermelho dos cravos. Até vi um casal de namorados nos resguardos da ponte, que namoravam como nos filmes. E a senhora das esmolas, que por momentos se esqueceu de estender a mão e viu-se no reflexo das águas do rio. E perguntei-me se seriam doces ou salgadas, as águas do rio. Queria falar da liberdade, mas distrai-me com as estrangeiras giras com ombros de alças marcadas pelo sol. E o reflexo das velhas fachadas constantemente lavadas pelas águas do Gilão. E esqueci-me porque me fodes o juizo. Estou a escrever-te a ti. sabes, ás vezes estás-me tão entranhada

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A admirável natureza humana

Um grande capitalista decide visitar a quinta do sogro recém entrado na familia. Numa atitude de sobranceria e prepotência propôe-lhe:
- compadre, tanto estrume... não lhe faz confusão?
- não, é natural numa quinta com animais.
- e se eu lhe der ...500 euros! Você é capaz de comer uma bosta de vaca?
- 500 euros...

e o compadre agricultor, a pensar nas vacas que podia comprar com 500 euros, engole a bosta.
O sogro capitalista, surpreendido com a facilidade com que o compadre engoliu o poio de vaca, e como nunca tinha perdido tanto dinheiro em tão pouco tempo, tenta recuperá-lo:

- Ó compadre, e se eu comer também uma bosta de vaca, você devolve-me os meus 500 euros?
O agricultor não pensa duas vezes, pois ver o sogro arrogante de gravatinha a comer uma bosta de vaca, é algo muito raro de se ver numa vida inteira e aceita.
O capitalista engole a bosta a muito custo e lá recupera o seu dinheiro.

passado meia hora o agricultor pergunta:
- Ó compadre.... mas porque é que comemos aquela merda toda?...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

A vida é demasiado curta para perdermos tempo a entediarmo-nos

"A felicidade tem mau marketing porque exige coragem. Para começar, a coragem de aguentar os dichotes desdenhosos dos que desistem dela. Um rapaz que aos 65 anos vai no quarto casamento, dizia-me há dias que está farto de ser olhado com paternalismo por homens acomodados na rotina das pantufas conjugais e dos engates ocasionais. Diz este meu amigo que não entende como conseguem as pessoas dormir com alguém que já não desejam e desejar alguém com quem não podem dormir. Talvez não sejam capazes de desejar sem interdições, o que significa que o objecto real do seu desejo é o proibido. É difícil estimarmos aquilo que temos. Lembro-me sempre da história daquele homem que, sendo encantador com a noiva durante os seis anos em que noivaram, se tornou frio e bruto ainda na lua-de-mel. Quando a mulher lhe perguntou a causa daquela mudança, retorquiu: "Ninguém corre atrás de um comboio quando já vai lá dentro." Uma história de outros tempos, como pensa a própria protagonista, hoje já transformada em comboio vazio por morte do ingrato passageiro? Nem por isso. Raros cavalheiros se atrevem hoje a expressar o que lhes vai na alma com a eloquência deste falecido apreciador de comboios em fuga - tornaram-se mais cuidadosos no falar, desde que os comboios se transformaram em TGVs supersónicos. Uma palavra a mais pode provocar uma sacudidela a alta velocidade, capaz até de os catapultar para o desabrigo da linha férrea, onde não se servem refeições quentes nem programas de televisão. Há dias, queixava-se-me um recém-divorciado, em voz de desespero: "Mulheres interessantes até há, mas todas tão incapazes de estrelar um ovo como eu!" Citei-lhe as frases finais do fabuloso "Annie Hall", de Woody Allen: "- Doutor, estou preocupado, o meu irmão julga que é uma galinha. - Então traga-mo, para eu o tratar. - Eu trazia, mas preciso dos ovos." Uma citação propositadamente deslocada, porque me deprime menos pensar que todos nós precisamos de uma qualquer espécie de ovos ainda por inventar (a Clarice Lispector percebia muito disso) do que pensar que os seres com quem contraceno andam mesmo e só à procura de ovos bem estrelados.

Na maioria dos casos, a iniciativa do divórcio parte das mulheres. Por causa dos ovos estrelados, ou dos ovos que cresceram e se tornaram filhos. Elas, em caso de necessidade, ainda sabem partir ovos - e entrar ou sair de comboios em andamento, mesmo com as mãos cheias de sacos de supermercado. E são elas quem fica com os filhos. Quando as mulheres começam a ameaçar separar-se, os homens clamam que não aguentam ficar longe dos filhos. As mulheres espantam-se, porque nunca deram pela força do amor paternal: era cala-te puto que o pai quer ver o telejornal, estás aqui estás a levar uma lamparina - e, de repente, a criança ignorada torna-se o centro do mundo. Este discurso tem o condão de comover as outras mulheres que querem ficar perto destes pais extremosos, e de quem eles não querem mais do que umas cópulas revigorantes. Com tanto sentimento, não sei como sobrevive a prostituição. Deve estar reduzida àqueles de quem nunca ninguém quis ter um filho. Pobres trabalhadoras.

Um homem que se case muitas vezes, e de sua livre iniciativa (isto é, sem ter sido empurrado do comboio por uma mulher farta de o aturar) é visto como um ingénuo: escolhe a chatice da mudança e da despesa constante, em vez do regalo do lar e o consolo dos casos por fora. Para quê mudar, se nada é eterno e tudo se torna hábito? Precisamente por isso, diz o tal meu amigo que insiste em casar-se: "A vida é demasiado curta para perdermos tempo a entediarmo-nos. Eu gosto de partilhar tudo. Acho que se aprende mais a dois do que sozinho, do mesmo modo como se aprende mais tendo amigos do que não tendo. É uma tristeza viver com uma pessoa com a qual já não se partilha tudo." Vidas cinzentas. Hipócritas, mas isso é o menos - o pior é a tristeza, porque chega um dia em que já não há crianças barulhentas em casa nem sobra charme para engatar a vizinha. E morre-se sem ter mudado nada. Morre-se sem ter experimentado o trabalho infinito da felicidade. Este meu amigo não vai morrer assim. Será lembrado com alegria pelos três filhos e pelas várias mulheres que soube amar. O amor não se perde, apenas muda de natureza. Desde que saibamos escutá-lo e acarinhá-lo. Há é pouca gente para dar por isso."

Texto publicado na edição da Única de 20 de Março de 2010, por Inês Pedrosa.