sábado, 17 de outubro de 2009

Onde jazem todos os que amámos

Lembro-me de um chão de tacos de madeira. De uma cama de casal. De alguns brinquedos entre eles o Sport Goofy que o meu pai me trouxe dos Estados Unidos. Do calor vermelho-alaranjado da luz do por do sol, reflectida nos barcos que faziam a travessia Troia-Setúbal. As minhas primeiras memórias.

A memória é talvez a nossa melhor escola de vida. E por mais enganadora que seja, é sempre mais verdadeira do que qualquer verdade que temos como certa. E é também um cemitério abandonado, onde jazem todos os que amámos e deixámos de amar. Porque não posso negar o que vi, o que cheirei, o que senti, o que amei. Não me deixa negar que fui feliz. E nem com os olhos abertos te negas, a fazer-me voltar a sentir o calor da tua mão e a loucura da tua boca. Não, não me deixas negar que atravessámos ruas juntos de mãos dadas, e que parámos o tempo no movimento ávido dos nossos corpos.

- Esquece.
Diz ele.
Não. Enquanto me lembrar, estarei vivo, e vivendo, não deixarei morrer quem caminhou comigo, ao longo do caminho.

8 comentários:

Celeste disse...

Concordo! A memória é a minha melhor amiga! Nunca me deixa ficar mal!É uma ajudante implacável! Tipo sexto sentido!

S* disse...

Eu gosto de me recordar de tudo... do bom e do mau. Fortalece-me.

memyselfandi disse...

Gostei sobre tudo da última parte: sinto esse exacto dilema tantas vezes...esquece, não esquece. Esquece, não esquece...

Amadeusa disse...

Um dos maiores dilemas quando um Amor acaba.
Esquecer ,seguir em frente é estármos a admitir que afinal não foi assim tão importante para nós, não foi assim tão especial como dissemos e sentimos. No fundo esquecer é confirmar que estávamos errados é admitir que afinal não era a pessoa certa e que nos enganámos e que o nosso sentimento não era assim tão forte, tão eterno como diziamos ser.
Por outro lado lembrar, deixar viver em nós a pessoa e as recordações é ficarmos presos a algo que não existe mais, é ficármos presos a alguém que não nos quer e não gosta mais de nós, é não deixármos a vida seguir o seu rumo, é não nos abrirmos ao presente e a novas possibilidades é não continuar a busca de encontrar a nossa verdadeira cara metade.
È ficarmos presos ao passado em vez de seguirmos em frente.
É muito complicado desistir do que sonhámos e idealizámos e sentimos um dia, o abrir mão de tudo o que poderia ser ,ou poderia ter sido.
Julgo que é mais complicado abrir mão de nós, desse bocado de nós do que desistir verdadeiramente da outra pessoa, que no fundo já perdemos e que não nos quer.

Paulo disse...

Amadeusa,

em parte não concordo contigo. Eu não fico preso ao passado, pelo contrário. Uso o passado para ter um melhor futuro. E todas as pessoas que já passaram pela minha vida, fazem de mim o que sou hoje. Por isso eu digo, que todas essas pessoas, caminham junto comigo.

Rakel disse...

Não é ficar preso ao passado ke a gente fica,é mais um experiência ke se guarda. O temo se encarrega de diluir um pouco as más e as boas lembranças deixando apenas uma leve pegada na nossa memória. E felizmente ke é assim, porke kem só fica preso às memórias menos boas não vive, se intimida com o ke é bom, com medo ke se acabe. Tudo tem a duração certa.

Paula disse...

"não deixarei morrer quem caminhou comigo"... é a minha parte preferida... foste tu que escreveste este texto??? muito bom!!

C. Moniz disse...

este post faz-me lembrar um pequeno texto que escrevi como descriçao duma foto que tirei...

...

16-05-09
Os caminhos são os mesmos e a calçada continua lá, intacta para com os de mais. Mas, os sentimentos renascem diferentes enquanto pela mesma calçada ainda piso. Em cada lugar há e sempre haverá um pouco de ti, em cada esquina um sorriso teu realça-me no pensamento, …, a troca de olhares subordinados ao que viria depois, as baladas da matriz que fazem estremecer tudo o que um dia, entrelaçadas nas mãos, levamos: a Eterna Amizade, enquanto que pela mesma calçada caminhávamos…


...


e, confesso, isto deixa-me saudade, mas tambem alegria... por isso digo que nao gosto de apagar nem esquecer nada do que já vive, porque tudo o que passei pode ter-me feito chorar, pode ter-me feito mudar, sorrir, mas tambem fez-me crescer e faz parte de mim, como todos os locais por onde passo, farei sempre parte deles...
so a calçada... so o chao que pisamos sabe o peso que acarretamos connosco enqt caminhamos, tal como a nossa mente...

'carpe diem', faz sempre sentido*