Telemóveis, internet, e-mail, msn, facebooks... confesso que me irritam. E confesso também que já não vivo sem. Viciam e dão menos do que roubam. Roubam tempo. Mantêm-nos em contacto. Com, mas sem tacto. Matam. O toque. Não há toque, pele com pele. E a falta de toque pode ser silênciosamente dolorosa. E vê-se no rosto das pessoas. Que não têm toque. E sem se aperceberem, chocam. Chocam umas contra as outras. só para sentir. Sentir qualquer coisa. Sentir o toque.
Dantes as pessoas encontravam-se, agora andam aos encontrões. Chocam umas com as outras. Ás vezes violentamente, tal a ânsia de se sentirem. De sentir o toque.
E não, não falo dos encontros em que as pessoas são apresentadas umas ás outras. Nem os combinados. Nem os previsíveis. Falo dos verdadeiros encontros. Aqueles em que duas pessoas se encontram. Sem nada terem feito para se encontrarem. Encontravam-se pura e simplesmente. Contra tudo o que seria de esperar. Porque nunca acontece.
...ás pessoas que sonham em encontrar. Quem sonha assim já está meio derrotado. Porque em vez de esperar pelo encontro, já está a procurar. Imaginando a pessoa que quer encontrar. Como se ela já existisse com as medidas que o coração encomendou. O verdadeiro encontro é aquele em que nem um nem outro é procurado. A pessoa que se encontra tem que ser desconhecida. para se poder conhecer. Sem exigirem uma á outra o que não têm e o que não são, nem o que não querem vir a ser.
O verdadeiro encontro é precedido pelo choque. E ficamos em estado de choque. Aturdidos. Não sabemos bem quem somos e trocamos os nomes. As moradas e numeros de telemóvel. E a curiosidade de conhecer melhor a outra pessoa sente-se como uma espécie de alegria. E as perguntas só de serem feitas, já fazem bem. E passam-se horas em conversas sem interesse porque o verdadeiro interesse é o que faz as horas passarem sem se verem. E damos por nós a desejar que aquele seja o último encontro. O último de muitos que nos levaram até ali.
Podemos nos esconder, refugiar, resignar por aqui, mas isso só contribui para que um dia tenhamos um choque. E um choque é sempre um choque. Nada garante que não nos possa magoar. Pode. E pode doer.
Mas não será maior a dor de ausênsia de toque do que a dor do choque?
Pareço boa pessoa ...
Há 5 semanas