domingo, 22 de novembro de 2009

E ficamos em estado de choque

Telemóveis, internet, e-mail, msn, facebooks... confesso que me irritam. E confesso também que já não vivo sem. Viciam e dão menos do que roubam. Roubam tempo. Mantêm-nos em contacto. Com, mas sem tacto. Matam. O toque. Não há toque, pele com pele. E a falta de toque pode ser silênciosamente dolorosa. E vê-se no rosto das pessoas. Que não têm toque. E sem se aperceberem, chocam. Chocam umas contra as outras. só para sentir. Sentir qualquer coisa. Sentir o toque.
Dantes as pessoas encontravam-se, agora andam aos encontrões. Chocam umas com as outras. Ás vezes violentamente, tal a ânsia de se sentirem. De sentir o toque.

E não, não falo dos encontros em que as pessoas são apresentadas umas ás outras. Nem os combinados. Nem os previsíveis. Falo dos verdadeiros encontros. Aqueles em que duas pessoas se encontram. Sem nada terem feito para se encontrarem. Encontravam-se pura e simplesmente. Contra tudo o que seria de esperar. Porque nunca acontece.

...ás pessoas que sonham em encontrar. Quem sonha assim já está meio derrotado. Porque em vez de esperar pelo encontro, já está a procurar. Imaginando a pessoa que quer encontrar. Como se ela já existisse com as medidas que o coração encomendou. O verdadeiro encontro é aquele em que nem um nem outro é procurado. A pessoa que se encontra tem que ser desconhecida. para se poder conhecer. Sem exigirem uma á outra o que não têm e o que não são, nem o que não querem vir a ser.

O verdadeiro encontro é precedido pelo choque. E ficamos em estado de choque. Aturdidos. Não sabemos bem quem somos e trocamos os nomes. As moradas e numeros de telemóvel. E a curiosidade de conhecer melhor a outra pessoa sente-se como uma espécie de alegria. E as perguntas só de serem feitas, já fazem bem. E passam-se horas em conversas sem interesse porque o verdadeiro interesse é o que faz as horas passarem sem se verem. E damos por nós a desejar que aquele seja o último encontro. O último de muitos que nos levaram até ali.

Podemos nos esconder, refugiar, resignar por aqui, mas isso só contribui para que um dia tenhamos um choque. E um choque é sempre um choque. Nada garante que não nos possa magoar. Pode. E pode doer.

Mas não será maior a dor de ausênsia de toque do que a dor do choque?

8 comentários:

Fenix disse...

Sim, sem dúvida!
A ausência de "toque" dói mais!
Que saudades desses tais "encontros" e conversas sobre tudo e sobre nada, sem tempo contado..., pelo puro prazer de estar junto, a conversar, a rir, a olhar, olhos-nos-olhos!
Que falta que tudo isso faz!
Sim a internet é boa, mas como adicional..., NÃO COMO SUBSTITUTO.

Beijinhos
São

memyselfandi disse...

Como senti cada palavra que aqui registaste! Como me vi em cada uma delas! Nas perguntas que colocaste, nas respostas que deste e que não deste. Tão verdadeiro O cenário de "não toque" e, tão verdadeiro também, o cenário em que se esse "não toque" não existisse seria um cenário pior ainda... por não existir.

Rakel disse...

É verdade sim isso ke disseste. Embora se culpe à vida agitada essa necessidade de estar contactável mas sem contacto físico, a verdade é ke essa barreira evita magoar-se a sério pra muita gente.
é uma forma de defesa tão boa como qualquer outra.

Francesa disse...

As pessoas procuram e criam expectativas. E qualquer pessoa que conhecem, fazem aquela avaliação (situação profissional, hobbies, signo astrológico, etc) de modo a avaliar se é o tal.
É verdade, perdeu-se muito. As relações já não são iguais ou já não se cultivam de igual forma.
Na natureza introduziram OGM's, químicos, monoculturas. Nos humanos foram as redes sociais e os tlm, como referiste.

Carlos Landivar disse...

Olá,

Sou novato aqui no blog. Mas gostaria de parabeniza-lo pelo tema do blog, o Cisne Negro, realmente uma leitura incomparável. Visitarei mais vezes.
Um abraço!

Unknown disse...

é viciante, rouba-nos tempo, sono, energias..... é uma ilusão!!!
Pois o princepe/princesa com que tanto sonhamos não está no mundo virtual, mas ao nosso lado.... gastamos tempo em buscas inutéis e todo esse tempo esteve mesmo ao nosso lado e não notamos, pois estavamos cegos, distraídos, ocupados...
qdo tornamos o mundo virtual real, e qdo começa a existir o toque não é nada do k sonhamos ou esperavamos e aí vemos a futilidade....

desculpa os desvaneios...
desculpa o que disse sem dizer....

bj

Anónimo disse...

… empurrão, não!

Agora, a sério. Depois do choque segue a palavra, o silêncio, o olhar, se for o caso, o toque.
Chega a fazer recordar o termo ‘conquista’, um certo ‘enamoramento’...
Se doer, lambem-se as feridas…

Antiquado? Talvez., mas mais vivido, não?!


Bjs,
MM

M. disse...

ainda ontem falei disto.
do medo do choque, da ausência e do excesso. do que este excesso causa aos encontros aos que tocam de verdade