quarta-feira, 3 de março de 2010

A triste idade

Há tempos vi num programa de televisão (as tardes da Julia, salvo o erro), uma senhora viúva, que esteve casada mais de cinquenta anos até a morte lhe ter levado o companheiro. Que foi o único homem da sua vida e que não queria mais nenhum. Interpelada pela apresentadora do programa, explicou (muito timidamente, porque nunca tinha falado destas coisas com ninguém) porquê: que não queria mais nenhum homem na sua vida, porque nunca gostou de sexo. Que era um castigo e o que teve com o falecido, teve por mera obrigação.



Hoje de manhã, observo uma senhora coberta de negro, com mais rugas no rosto do que eu tenho em anos de vida. Estava pacientemente a tentar levantar dinheiro de uma caixa multibanco, com a ajuda da neta. Calculo que tenha sido por falhar as três tentativas de digitar o código correcto, que fez com que a máquina não devolvesse o cartão da senhora. A sua atitude perante a máquina é de uma total aceitação. Ficou prostada em frente à máquina, completamente imóvel, durante uns longos segundos. Provavelmente não tem dinheiro consigo, e não vai poder fazer as compras de mercearia de que tanto necessita. Isto tudo sem o mais pequeno pio, ou sinal de revolta. Com uma mansidão resignada que tem séculos.



Mas não sei se me chocam mais estas duas tristes realidades, se esta terceira. De uma senhora também quase centenária, que se emociona e chora, só por dizer o seu nome a uma plateia de outras senhoras e senhores idosos. Porque em muitos anos de vida, nunca teve a atenção de outras pessoas. E só era pedido à senhora que se apresentasse.... só isso, que nos dissesse o seu nome e idade...e a senhora começa a chorar... porque nunca teve muitas pessoas a ouvi-la. Porque nunca teve atenção

e tão rápido como disse o nome, limpou as lágrimas e sentou-se imóvel na sua cadeira, sem dizer mais nada