sábado, 6 de março de 2010

A verdade

Uma donzela estava um dia sentada à beira de um rio, deixando a água do rio passar por entre os seus dedos muito brancos, quando sentiu o seu anel de diamantes ser levado pelas águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamantes do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um canteiro de margaridas. O pai e os irmãos da donzela foram atrás do assaltante. Encontraram um homem no bosque a dormir. A donzela apontou para o homem deitado na erva que logo foi morto sem sequer acordar. Mas o pai e os irmãos da donzela não encontraram o anel de diamantes. E a donzela disse:
- Não era um homem, eram dois!
E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo homem, encontrando-o mais à frente no bosque e apenas com uma indicação do dedo da donzela, matam-no, sem sequer o deixar falar. Mas este também não tinha o anel de diamantes. E a donzela disse:
- Então está com o terceiro!
E o pai e os irmãos correram atrás do terceiro homem. Encontrando-o mais à frente, a pescar no rio. mas não o mataram, pois já estavam fartos de sangue. E levaram o pescador para a aldeia. Ao revistarem o pobre homem, encontram o anel de diamantes, para espanto da donzela!
- Foi ele que robou o anel de diamantes da donzela! Gritaram os aldeões.
- Matem-no!
- Esperem! - Gritou o pescador, no momento em que lhe passavam a corda ao pescoço.
- Eu não roubei o anel. Foi ela que mo deu!
E apontou a donzela, diante do escândalo de todos.
O homem contou que estava à beira do rio, pescando, quando a donzela se aproximou dele e lhe pediu um beijo. Ele beijou-a. Depois a donzela tirou a roupa e pediu e pediu que a possuísse, pois era virgem e queria saber o que era o amor. Mas como o pescador era um homem honrado, resistira ao desejo, e disse à donzela que devia ter paciência, pois conheceria o amor com o seu marido, no leito de núpcias. Então a donzela oferecera-lhe o anel, dizendo: « já que os meus encantos não te seduzem, compro o teu amor com este anel». E o pescador sucumbira, pois era pobre e passava fome, e a necessidade é o algoz da honra.
Depois do relato do pescador, todos se viraram para a donzela e gritaram:
- Rameira! Impura! Demonio!
E exigiram a sua morte. E o proprio pai da donzela, pos a forca no pescoço da filha. E antes de morrer disse a donzela para o pescador:
- A tua mentira foi maior que a minha. Eles mataram pela minha e vão matar pela tua. Onde está afinal a verdade?
Ao que o pescador retorquiu:
- A verdade é que eu encontrei o anel na barriga de um peixe. Mas quem acreditaria nisso? O povo quer é sangue e não histórias de pescadores.

Uma de muitas história contadas ontem, na Maré de Contos, a decorrer em Tavira.
Hoje ainda podem a Leitura Encenada: "A fábrica de Nada" de Judith Herzberg, orientada por Vitor Correia, na Biblioteca Municipal de Tavira, pelas 21:00.